sábado, 14 de junho de 2008

Ricardo Araújo Pereira e o Rock in Rio



Meus amigos, não resisti a fazer um "copy-paste" desta crónica do Ricardo Araújo Pereira, que saiu na última edição da revista "Visão", a propósito do Rock in Rio 2008 e da prestação de Amy Winehouse:


Aqui vai. No fim, falamos.

Em louvor de Amy Winehouse(e Vodkahouse e Whiskyhouse)

Começou, na passada sexta-feira, o Rock in Rio, o popular festival de música que se caracteriza por não ser de rock nem decorrer no Rio. Sob o lema Por um Mundo Melhor, dezenas de artistas lutam, ao longo de dois fins-de-semana, para proporcionar um Mundo realmente melhor a todos os habitantes do resto do Planeta e meia dúzia de dias infernais a quem reside em Chelas. Uma coisa são tiroteios entre os vizinhos e a polícia, violência entre gangs na rua e tráfico de droga à descarada. Mas, porém, ao virar da esquina, o Rod Stewart a uivar à uma da manhã é um castigo que aquela gente não merece.
Nesta edição do festival, acompanhei, com especial interesse, o concerto de Amy Winehouse. Devo dizer que qualquer expectativa que eu pudesse ter foi superada. Além de lutar por um Mundo melhor, Winehouse lutou, e muito, para se manter de pé. São dois combates em vez de um. Nem sempre conseguiu, é certo, mas fez um esforço heróico. À primeira vista, dir-se-
-ia que Amy Winehouse entrou em palco sob a influência de mais que uma substância, sendo que o álcool talvez tomasse a dianteira. Tratando-se de um festival familiar, a actuação de Amy proporcionou divertimento para toda a família. «Eu acho que ela está bêbada. E tu, papá?» «Creio que não, filho. Repara como ela cambaleia. Isto é chinesa, e da boa.»
Acima de tudo, foi um concerto que sublinhou, uma vez mais, a diferença que existe entre um bêbado deprimente e um grande artista. Ambos balbuciam coisas sem sentido e cantam, mas o que está à frente de um baterista e dois guitarristas é o grande artista.
Não quero com isto sugerir que Amy Winehouse não contribuiu para que o Mundo fosse melhor. Por um lado, toda a gente que já se entregou aos prazeres do álcool percebeu que, ao segundo ou terceiro copo, o Mundo parece, de facto, começar a melhorar. Agora imaginem quão bom é o Mundo de Amy Winehouse. É possível que a artista estivesse convencida de que se encontrava, de facto, no Rio de Janeiro.
É possível até que estivesse convencida de que aquilo que estava a fazer era cantar. Por outro lado, deve destacar-
-se a mensagem que Amy passou aos jovens. Os jovens, aparentemente, precisam muito de receber mensagens, e a generalidade das pessoas espera que sejam os cantores e as estrelas da televisão a enviá-las. Pois bem, a mensagem de Winehouse era clara e edificante: não consumam álcool nem drogas, pois receio que não sobrem para mim.
Há quem diga que estes concertos podem fazer muito para resolver a pobreza no Mundo. Mas são artistas como Amy Winehouse que vão além da caridade
e têm, de facto, uma intervenção macroeconómica séria. A economia da Colômbia, por exemplo, está toda às costas da rapariga.



Eu fui ao Rock in Rio e recusei-me a dar 30 euros por uma t-shirt! Aliás, nem precisei de me preocupar em trazer souvenirs para a família. Mal entrei, senti-me como se estivesse na Feira da Alimentação da Exponor. Eram tantas ofertas que já não tinha mais sítio onde pôr as coisas.
A Vodafone estava a oferecer sofás insufláveis, a Liberty Seguros deu patos insufláveis, o Millenium BCP ofereceu chapéus, cristas de galos, plumas, a Renascença deu moínhos de vento, a SIC ofereceu sacos, etc, etc...
Confesso que consegui trazer o pato azul. Tinha piada. O pior é que tive de o esvaziar para o conseguir enfiar dentro da mochila. Não se consegue pular ao som de Ivete com aquilo agarrado à cinta!!
O espaço estava muito giro. Esqueceram-se de dizer que o Parque da Bela vista ficava num monte, logo tínhamos que subir...
O recinto tinha imensas coisas e stands. Parecia um shopping ao ar livre, com multibancos, cabeleireiro, lojas de roupa e de calçado, espaço gourmet, restaurantes...etc...
O mais importante foram os concertos. Paulo Gonzo abriu as hostes às sete da tarde. A essa hora estavamos na fila para os hamburgueres do KFC. Não sei o que comi. Se era frango ou outra coisa. Nem quero saber. O que eu sei é que estava com fome e, por momentos, imaginei que aquele hamburguer tinha alface, queijo e bacon...
Depois veio o show da Ivete Sangalo. Eu não quero saber o que os intelectualóides dizem: não há show como a Ivete. O recinto estava a abarrotar. Pulei, dancei, bati palmas, cantei e gritei até ficar rouca. Como sempre, a Ivete nunca desilude e não há melhor animação para uma festa.
O concerto mais aguardado da noite foi, sem dúvida, o da Amy Winehouse. As horas começaram a passar e ela, nada! Pensei: teve uma overdose ou perdeu-se no Casal Ventoso. 37 minutos depois da hora marcada, lá apareceu, agarrada a um músico, a fumar..com um chupão no pescoço e a mão ligada...
Comecei a receber mensagens de quem estava a ver a cena em casa na televisão... "Ela está drogada! Ela está com uma bebedeira!". E estava. É verdade. Não conheço a Amy Winehouse de outra forma, mas nunca pensei que ela estivesse naquele estado, ao ponto de cair, esquecer-se das letras, desatar a chorar porque o público não reage ou terminar o concerto, dizendo "Gracias". Ela foi, tudo, menos profissional. Será que ela actua todos os dias em Portugal para 100 mil pessoas?
Lenny Kravitz salvou a noite. Quando começou a actuar, estourou o fogo-de-artifício no ar. Foi uma imagem bonita. Pena foi ter estado vinte minutos a inventar na habitual apresentação dos músicos...ao ponto de pensarmos: "Será que ele sabe que isto é um concerto com público?".
Depois lá vieram as músicas conhecidas, as baladas de fazer apertar o peito. Em vez dos isqueiros, eram os telemóveis que iluminavam a plateia...Bonito.
No fim, passamos pela tenda electrónica e descobrimos miraculosamente as casas de banho ligadas à rede pública.
Quando viemos embora, o cansaço era, por demais, evidente, assim como a terra nas calças e nas sapatilhas...
Eu fui!

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