sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

“Viajantes sem mala”

“A porta do quarto abriu-se de mansinho e o gato Chinfrim deslizou sorrateiro junto à cómoda e saltou para cima da colcha e dos joelhos de Mariana. Encostou o focinho cinzento claro com a pontinha cor de fiambre na cara da rapariga, que lhe começou a fazer festinhas no pêlo. A traqueia do bichano despertou ao fim de alguns segundos e desatou a ronronar, fechando os olhitos claros, cheio de mimo e de pachorrice. Mariana coçou a cabeça uma outra vez e desabafou com o gato os seus pensamentos.
– Que chatice ter apanhado piolhos!”.
Assim escreve Vanda Azuaga, a autora de “Mariana dos Cabelos Ruivos”. O livro foi apresentado no passado sábado, na Fnac do Norte Shopping.
É a primeira que Vanda Azuaga escreve um livro para crianças. A ideia da “Mariana dos Cabelos Ruivos” partiu de um concurso literário da Trofa, no qual participou.
Numa conversa, uma amiga falou-lhe dos “viajantes sem mala”, isto é, os piolhos. Por isso, o livro conta a história de uma rapariga que apanha piolhos.
“A Mariana não existe na vida real, mas inspirei-me nos meus três filhos, quando eles apanharam piolhos”, refere Vanda Azuaga.
A autora inspirou-se ainda na sua experiência como professora de Matemática e de Ciências do 5º e 6º anos. No livro, Vanda Azuaga aborda a relação entre avós e netos, numa época de globalização. “Tem muito afecto à mistura”, revela.
“Há uma ligação com a realidade. Não é um conto de fadas. A Mariana é uma rapariga que tem problemas de piolhos. Não tem muito dinheiro”, conta.
Também para Maria Cerveira, a experiência de pintar as ilustrações para um livro de crianças foi inédita. “Adoro pintar. É uma distracção. É muito importante fazermos o que gostamos. O sonho é sempre importante”, afirmou.
“Gosto muito de crianças. Há uma certa magia. Temos que ilustrar de uma maneira diferente para lhes dar um bocadinho mais de vida, de mais cor. Esta Mariana é um bocadinho triste, porque eu, às vezes, também sou um bocadinho triste, mas sonhadora”, explica Maria Cerveira. “Um dos meus sonhos é escrever um guião para um filme. Quem sabe se o meu próximo projecto não é fazer um filme?”, questionou Vanda Azuaga. A parceria de Vanda Azuaga e Maria Cerveira é para continuar. Há mais um livro a ser “cozinhado” para dar asas à imaginação à pequenada. “Mariana dos Cabelos Ruivos” está à venda na Fnac. O livro pode ser adquirido pelo preço de 10 euros.



Por: Dulce Salvador

Obsessão pela morte


Matosinhos foi palco, durante quatro dias, de uma das peças de teatro mais premiadas nos últimos tempos em Portugal.
“Começar a Acabar” de Samuel Becket, estreou, na passada quinta-feira, no Cine-teatro Constantino Nery, e em cena se manteve até ao último domingo.
A peça revisita os momentos mais significativos da obra do dramaturgo Samuel Becket e conta a história de uma amizade entre dois irlandeses: o dramaturgo Samuel Becket e o actor Jack Macgowran, de onde resultou “um monólogo de uma espantosa unidade dramática” que passa pelos poemas e pelas vozes de Krapp, Lucky, Molloy, Clov, Malone, entre outras.
Com encenação, tradução e interpretação do conhecido actor João Lagarto, a peça conta ainda com a música de Jorge Palma.
“Isto é um monólogo que o Becket fez de propósito para um actor amigo dele. Não é um texto original. É uma montagem que o Becket fez de vários bocados de livros que ele já tinha escrito na altura. Foi buscar coisas aos romances, às peças e à poesia e fez uma montagem disso. As pessoas não notam as costuras. Parece que é uma coisa única e não é. Ele era exímio a fazer esse tipo de coisas. Quem conhece a obra do Becket e vê isto, detecta aqui algumas coisas bastante conhecidas e bastante emblemáticas da obra do Becket. É um texto sobre a morte, que é a única coisa que une todos esses fragmentos. A morte entendida como morte física da pessoa, mas também como o fim, ou seja, um conceito maior do que apenas a morte física da pessoa. O fim das histórias. Como é que se acabam as histórias? O Becket era um tipo que tinha um horror ao silêncio. Eu preciso de continuar a falar. Se o silêncio invadir, eu acabo. O silêncio é o fim. Nesse sentido, não é só a morte. É um texto aberto, que sugere muitas coisas”, explica João Lagarto.
Em Portugal, a peça estreou em Setembro de 2006 e resulta de uma co-produção ACE/Teatro do Bolhão- Teatro Nacional D. Maria II.
“Tem sido uma experiência única. Nunca me aconteceu uma coisa destas na minha vida. Nunca fiz uma peça durante tanto tempo na minha vida. Tem sido uma coisa permanente durante os últimos dois anos e meio. Estreou em 2006, por altura do centenário do Becket e desde então não parei. É muito engraçado fazer uma peça assim durante tanto tempo. Descobrem-se coisas sobre a peça, sobre nós e sobre tudo”, revela o actor e encenador.
João Lagarto venceu o prémio de Melhor Interpretação em 2006 pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro e o Globo de Ouro para Melhor Actor de Teatro nesse mesmo ano.

Ficha Técnica:
Encenação, Tradução e Interpretação- João Lagarto
Música- Jorge Palma
Iluminação- José Carlos Gomes
Figurino- Ana Teresa Castelo
Operação de Luz e Som- Nelson Lima
Produção- Pedro Aparício e Alice Prata
Design Gráfico- Bernardo Providência



Por: Dulce Salvador

Vencedores do concurso “Olha quem dança”, da RTP



A caminho de Nova Iorque

Jonas e Rosa Maria são de Leça da Palmeira e foram recebidos em festa.

Ao fim de quatro meses e de 16 pro­gramas de televisão, Jonas e Rosa Maria conseguiram não só chegar à fi­nal do concurso “Olha quem dança!”, como arrecadar o primeiro lugar do pódio. O concurso, apresentado por Silva Alberto, pretendia juntar pais e filhos, numa competição cujo prémio era uma bolsa de estudos numa das mais prestigiadas escolas de dança do mundo, a “Broadway Dance Center”, em Nova Iorque.
Ao longo de 16 programas de televisão, o júri, constituído por João Baião, Vítor Fonseca, Catarina Avelar e Marco De Camillis, avaliou a prestação de 14 pares dançarinos de todo o país.
À final chegaram Vanda e Francelino. Vanda, de 26 anos, é licenciada em Dança pela Escola Superior de Dança. É bailarina e professora de profissão. Dança há 11 anos e já fez workshops em Nova Iorque e em Los Angeles. O pai, Francelino, prepara-se para criar a sua própria empresa de montagem de estores.
O Jonas tem 25 anos e é bailarino. Dança há 14 anos. Durante a fase da adolescência, praticou ginástica acrobática. A mãe, Rosa Maria, tem uma banca de peixe no Mercado de Matosinhos. No último programa, os finalistas recordaram, através de um vídeo, os seus melhores momentos no “Olha quem dança”.
Vanda e o pai Francelino, de Pombal, Jonas e a mãe Rosa Maria, de Leça da Palmeira, dançaram salsa e “Broadway”. Na parte do tango, Vanda dançou com o bailarino Tinita, enquanto Jonas dançou com Xana.
A final do “Olha quem dança!” contou ainda com a participação dos ex-concorrentes, que dançaram ao som do estilo “Broadway”.
O público votou. Antes de se conhecer o resultado, o júri pronunciou-se, em jeito de balanço, sobre o programa. O melhor comentário foi proferido por João Baião que traçou rasgados elogios à concorrente de Leça da Palmeira: “Se há pessoa que devia ficar para a história do Olha quem dança! É a Rosa Maria”.
Jonas e Rosa Maria obtiveram 56% dos votos, enquanto Vanda e Francelino não foram além dos 46%.
Além da bolsa de estudos, Jonas e Rosa receberam uma viagem a Praga, a capital da República Checa, e um cheque de 500 euros, entregue todas as semanas ao favorito do público.


Por: Dulce Salvador

Festival da Canção RTP 2009



Matosinhos presente

Fernando Pereira e a dupla Nuno e Fábia Cardoso concorrem por um lugar na final.

De um total de 393 maquetas, 24 temas foram seleccionados para a 1ª fase do Festival da Canção da RTP 2009.
A comissão avaliadora foi constituída por Tozé Brito (músico, compositor, produtor musical e editor discográfico), Fernando Martins (músico, compositor e produtor musical), Ramon Galarza (músico, compositor e produtor musical) e José Poiares (responsável pela área dos grandes eventos da RTP).
A votação on-line está em curso até ao próximo dia 30 de Janeiro. Basta consultar o site www.rtp.pt.
Terá à sua disposição três votos. Poderá votar na sua canção ou canções favoritas.
Da lista de 24 canções sairão as 12 que participarão no Festival da Canção, a 27 de Fevereiro, no Teatro Camões, em Lisboa.
Alguns nomes conhecidos da música portuguesa fazem parte da lista como Armando Gama, Luciana Abreu, Nucha, Tayti, Sérgio Lucas, Nuno Norte, entre outros.
Matosinhos estará representado por Fernando Pereira. O cantor, residente em Lavra, interpretará a canção “É o amor”. A letra é da sua autoria, enquanto a música é de Lucas Júnior.
Também a dupla Nuno e Fábia Cardoso, residente na Senhora da Hora, participa com o tema “Não demores (Quero-te aquecer)”, com letra e música de Pedro Vaz.
A canção vencedora irá representar Portugal no Festival da Eurovisão que, este ano, terá lugar em Moscovo. Recorde-se que a Rússia foi a grande vencedora, no ano passado. Portugal foi representado por Vânia Fernandes, que interpretou a canção “Senhora do Mar”.


Por: Dulce Salvador

A canção mais ouvida em 2008 foi...

Música: "Apologize" foi a canção mais ouvida nas rádios portuguesas em 2008 - Associação Fonográfica Portuguesa
Lisboa, 29 Jan (Lusa) - A canção "Apologize", de Timbaland Presents One Republic, foi a mais ouvida nas rádios portuguesas o ano passado, e "Intervalo" de Per7ume com Rui Veloso, liderou entre as canções interpretadas por artistas portuguesas, revelou hoje a Associação Fonográfica Portuguesa (AFP),
"Intervalo" posicionou-se no 9.º lugar entre as 50 mais rodadas, segundo o estudo divulgado pela AFP que se baseia na escuta de 16 emissoras de rádio.
"Apologize", "Mercy" de Duffy e "The story" de Colbie Caillat constituem o trio liderante das mais rodadas em Portugal.
Entre os 50 temas mais tocados de artistas nacionais, 12 são cantados em português e três em inglês, dois deles por David Fonseca, o único intérprete nacional que bisa presença. De David Fonseca, "Kiss me, oh kiss me" situa-se no 12.º posto e "Superstars" no 42.º.
Entre as canções em português figura ainda "Boa sorte/Good luck" interpretada pela brasileira Vanessa da Mata e o norte-americano Ben Harper.
O lote dos dez primeiros inclui "Bubbly" de Colbie Caillat (4.º), "Sweet about me" por Gabriela Cilmi (6.º), "Shadow of the day" dos Linkin Park (8.º) e "Better in time" de Leona Lewis (10.º).
Todos os restantes músicos portugueses mais rodados estão abaixo deste grupo dos 10 mais. A banda Classificados com "Um segredo fechado" alcançou 16.º posto, logo seguida, no 17.º, por Ricardo Azevedo com "Entre o sol e a lua", no 18.º, "Cantiga de amor", dos Rádio Macau, em 19.º, "Leve beijo triste" de Paulo Gonzo e Lúcia Moniz, e, em 21.º, Jorge Palma com "Encosta-te a mim".
Mafalda Veiga, com "Estrada", alcançou o 24.º lugar.
Abaixo do 30.º lugar estão quatro portugueses: em 31.º Luís Represas com "Sagres", em 42.º David Fonseca, seguido por Ana Free, em 43.º, com "In my place".
Os Clã, com "Sexto andar", alcançaram o 45.º posto e Pedro Abrunhosa & Bandemónio, com "Pontes entre nós", o 47º.
Entre os 50 temas mais rodados figura também "Te Busqué" pela luso-canadiana Nelly Furtado e o colombiano Juanes que ficou no 29.º lugar.
As 16 rádios escutadas foram: RDP Antena 1, RDP Antena 3, Best Rock, Capital, Cidade FM, Festival, Mega FM, Nova Era, Orbital, Radar, Rádio Clube de Matosinhos, Rádio Comercial, RFM, Rádio Renascença, TSF e 94 FM.
O estudo hoje divulgado pela AFP foi efectuado pela Nielsen Music Control.
NL.
Lusa/Fim

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

No sofá com a Mafalda



A “estrada” de Mafalda Veiga levou-a a uma paragem em Matosinhos, na passada sexta-feira, véspera do seu regresso ao Coliseu do Porto, para um concerto há muito esgotado.
O Fórum Fnac do Mar Shopping foi pequeno para os muitos fãs da compositora e intérprete, cujo último trabalho “Chão” atingiu o disco de ouro.
Sentada num sofá branco, ladeada por dois candeeiros prateados, Mafalda Veiga esteve à conversa com Artur Silva e Tito Couto. Se não fosse o cortinado de veludo vermelho com o nome “Fnac”, diríamos que estávamos em casa da Mafalda. A conversa, animada, foi interpelada por alguns dos maiores sucessos, tocados ao vivo por Mafalda Veiga na sua guitarra, como “Em toda a parte”: “Em qualquer lado/Onde quer que eu vá/Levo no corpo o desejo/De te abraçar/Em toda a parte/Onde quer que o sonho me leve/Hei-de lembra-me de ti”.
Figura aparentemente frágil, com um discurso simples, mas marcado por uma grande descontracção, Mafalda Veiga recordou um pouco dos seus quase 21 anos de carreira.
Falou da importância dos fãs, daqueles que percorrem o país de lés-a-lés e que não perdem um único concerto. Aliás, foi graças ao seu clube de fãs que nasceu o sítio oficial de Mafalda Veiga na Internet, onde, hoje em dia, se trocam comentários, contactos e se combinam jantares de convívio antes dos espectáculos.
Foi a pensar nos seus admiradores que Mafalda Veiga compôs o tema “Cúmplices”. Os primeiros acordes na guitarra levaram a um aplauso dos fãs presentes no Fórum quando soaram as primeiras palavras: “A noite vem às vezes tão perdida/E quase nada parece bater certo…”. O refrão foi acompanhado pelo “coro” da sala: “Se eu fosse a tua pele/ Se tu fosses o meu caminho/ Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho; Trocamos as palavras mais escondidas/E só a noite arranca sem doer/Seremos cúmplices o resto da vida/Ou talvez só até amanhecer”.
Mafalda Veiga confessou, no entanto, que não gosta de contar as histórias que estão por detrás das suas músicas: Aprecio muito mais a liberdade de cada um apoderar-se da música como se fosse sua, dando-lhe o seu próprio sentido, a sua própria história”.
O primeiro single do álbum “Chão”, intitulado “Estrada”, foi de imediato reconhecido: “Meu amor não quero mais palavras rasgadas/Nem o tempo cheio dos pedaços de nada/Não me dês sentidos para chegar ao fim/Meu amor...só quero ser feliz”.
Para criar este disco, Mafalda Veiga recorreu a novos instrumentos como o banjo e a trompa para criar novas sonoridades. Considerado por muitos críticos como o seu “álbum mais comercial”, “Chão” surge, porém, na linha acústica a que nos habituou Mafalda Veiga.
Apesar de estar sempre presente no panorama musical português, Mafalda Veiga já não lançava um disco de originais desde 2003. Pelo meio, lançou um disco ao vivo e uma parceria com João Pedro Pais. “Admito que sou um bocado preguiçosa, mas isso vai mudar a partir de agora! Vou inscrever-me num ginásio! Estou a ter aulas de piano, porque só sei compor músicas na guitarra”, revelou.
Sobre o seu regresso ao Coliseu do Porto, Mafalda Veiga reconheceu ser grande a expectativa de ver a reacção do público: “Gosto muito de estar em palco, de ver como as pessoas reagem. O Coliseu é um espaço único. É uma sala em concha. É acolhedor. É uma sala única. É muito especial”.
Como não poderia deixar de ser, Mafalda Veiga terminou a visita com a música que todos mais aguardavam: “Cada lugar teu”. “Esta música é a minha cara e a de toda gente”, adiantou. “Sei de cor cada lugar teu/ atado em mim, a cada lugar meu/ tento entender o rumo que a vida nos faz tomar/ tento esquecer a mágoa/ guardar só o que é bom de guardar”, prosseguiu o público.
No final da conversa, que durou cerca de 40 minutos, Mafalda Veiga dedicou um pouco mais do seu tempo aos fãs, tirando fotografias, autografando cd’s e blocos de notas.

by Dulce Salvador in "Matosinhos Hoje" (21-01-2009)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

(De)Ilusão de óptica




Top 10- Cinema 2008

Aqui vai:

1- Crepúsculo- A surpresa do ano. A fotografia, a caracterização, a banda sonora, a interpretação dos protagonistas. Não víamos vampiros tão sensuais desde o Brad Pitt e Tom Cruise em "Entrevista com um vampiro".





2- Australia- Épico para ganhar os Óscares, mas não chega aos pés de "Moulin Rouge". Nicole Kidman a fingir que canta mal e o Hugh Jackman em tronco nú são cenas memoráveis.



3- Batman e o Cavaleiro das Trevas- O fantasma de Heath Ledger retira todo o protagonismo ao herói. Uma interpretação doentia do Joker. Merece o óscar.





4- James Bond e Quantum of Solace- O filme da consolidação de Daniel Craig como Bond. Faltou mais sensualidade à relação com a Bond girl de serviço.





5- Mamma mia- O filme sensação de 2008. Para fãs e não fãs das músicas dos Abba. É o filme mais bem disposto do ano. Vê-se, adora-se e quer-se mais!





6- Tempestade Tropical- É a loucura total. Robert Downey Jr a fazer de soldado preto no Vietname é qualquer coisa...Escandalosa é a mesma a presença de Tom Cruise. Gordo, careca, malcriado. Irreconhecível.






7- Procurado- Acção, acção, acção. Angelina Jolie. É preciso dizer mais alguma coisa?






8- Olhos de lince- Acção, acção, acção. Já disse que, de vez em quando, aprecio um grande filme de acção?





9- O sexo e a cidade- Mais, mais, mais! Por favor!






10- Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal- Que saudades do Sean Connery...Não desilude, mas não é o melhor. A Grande Cruzada sim.

Pensamento do dia

"Às vezes quando nos chega a sabedoria, já não serve mais para nada".
by Gabriel Garcia Marquez in "Amor nos tempos de cólera"

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

2008- Top 10

2008 foi um ano recheado de novas revelações e de grandes canções. Aqui vai o meu Top 10:


1- Duffy- Mercy- A rapariga tem aquele ar de Bela Adormecida, mas com uma voz esquisita...O refrão não nos sai da cabeça. Até os Bon Jovi não resistiram a cantá-la no Rock in Rio...



2- Jason Mraz- I'm yours- A música oficial do Verão. "Feel-good music"...

3- The Killers- Human- Thank God for the Killers...

4- Brandi Carlile- The story- Obrigada, Superbock!
http://www.youtube.com/watch?v=Zad2H2uwOGM

5- Sarah Bareilles- Love song- A música é gira. O penteado e o vestido parolos dispensam-se. Parece a Anabela no Festival da Eurovisão. Não deixa de ser uma grande música.

6- Yael Neim- New soul- A vida é feita de pequenas coisas. Simples e genial.

http://www.youtube.com/watch?v=GxBdQs10FEI
7- Chris Brown e Jordin Sparks- No Air- Um dueto improvável. Uma grande música.


8- Katy Perry- Hot 'n' Cold- Tu és uma ganda maluca!!


9- Coldplay- Viva la Vida- Viva a vida...

10- Madonna- Give it to me- Não há melhor regresso...

"O mundo precisa de anjos"




Veio ao mundo, já o mundo estava em festa. Gabriela Amorim é a primeira criança a nascer em 2009 no Hospital Pedro Hispano.
No dia 1 de Janeiro, pelas 08h05, nascia uma menina com 3,210 kg e 49 centímetros de comprimento.
Cláudia Costa, de 34 anos, e Gonçalo Amorim, de 35, são os dois pais babados. Apesar de trabalharem em Lisboa e de residirem em Santarém, Cláudia e Gonçalo vieram passar a quadra natalícia a Matosinhos, de onde são naturais, com a família.
“A Gabriela nasceu com 39 semanas e quatro dias. As probabilidades de nascer cá eram muito grandes. Viemos já preparados. A mala já estava feita desde Santarém”, salienta Cláudia.
Às três horas e quarenta minutos do dia 31 de Dezembro, Cláudia não aguentou as dores das contracções e deu entrada no Hospital Pedro Hispano. O parto foi normal e sem epidural, “por opção” como fez questão de frisar.
O sexo do bebé foi uma surpresa, até porque os pais resistiram sempre à curiosidade de saber mais cedo, durante as ecografias, se iriam ter um menino ou uma menina. “Só soubemos o sexo do bebé à nascença, para não criarmos demasiadas expectativas”, conta Gonçalo, que assistiu ao parto da esposa.
“A expectativa é muito grande. É o dever de dar à luz”, diz Cláudia. “É um momento muito feliz. Não me apetecia passar a noite aqui. Preferia estar em casa na Passagem de Ano, mas foi a melhor maneira de entrar em 2009. Terminou uma fase e começa outra”, confessa Gonçalo.
Gabriela é a irmã mais nova de Rafaela, uma menina de três anos e meio, que também nasceu no Hospital Pedro Hispano.
“Já tinha assistido ao outro parto. Faço questão de estar a apoiar. Chorei muito. Fiquei todo a tremer. Estava muito emocionado. O esforço da mãe…Estava a respirar com a mãe. Sente-se um bocado impotente. Quando tivemos a primeira filha, a primeira preocupação foi saber se a mãe estava bem. Agora, as atenções estão focadas no bebé e em saber se estava bem”, explica Gonçalo.
Para a pequena Rafaela, um novo bebé em casa significa que as atenções dos pais terão agora que se repartir por duas meninas. “Já começamos a preparar a Rafaela para aceitar a irmã, para não se sentir rejeitada. Ela ficou toda satisfeita quando viu a irmã”, revela o pai.
A escolha do nome para a pequenina Gabriela não foi fácil. O pai preferia Gisela. A mãe gostava de Rafaela, mas o nome já tinha sido dado à filha mais velha. “Chegou-se um consenso e ficou Gabriela”, esclareceu a mãe.
Gabriela é nome de anjo, tal como Rafaela. “O mundo precisa de anjos”, desabafa Cláudia.

by Dulce Salvador in "Matosinhos Hoje" (07-01-2009)

Pensamento do dia

"O coração tem mais quartos que uma pensão de putas".
by Gabriel Garcia Marquez in "Amor nos tempos de cólera"

Um cheirinho a liberdade


Estabelecimento Prisional Feminino de Santa Cruz do Bispo
Um cheirinho a Liberdade

46 reclusas terão, este ano, a oportunidade de partilhar o Natal com a sua família, longe da prisão. Outras- a maioria- estarão na sua cela, no momento em que se rasgar o papel de embrulho das prendinhas à meia-noite.
- “O Tony Carreira ligou-me há pouco a dizer que já estava a caminho!”.
- “Não sejas mentiroso! Quem vem é o filho! É o Mickael Carreira!”.
As reclusas do Estabelecimento Prisional Feminino de Santa Cruz do Bispo sabem que não é verdade, mas, ainda assim, riem e aplaudem as brincadeiras das apresentadoras da Festa de Natal. Duas reclusas bem dispostas recriam o casal de bêbedos Agostinho e Agostinha, celebrizado por Ivone Silva e Camilo de Oliveira.
A Festa de Natal é sempre um momento de muita animação e convívio. Por algumas horas, troca-se a cela pelo pavilhão desportivo. Recordam-se os momentos alegres vividos em família, celebrando o companheirismo e, em alguns casos, a amizade entre reclusas. Guardas prisionais, funcionários, membros da direcção assistem ao desfile de talento no palco.

Presentes no sapatinho
“Ela é que é a nossa Relações Públicas”, diz uma reclusa. E com razão. Mariana (nome fictício) tem o dom da palavra e o discurso desenvolto. O sorriso franco convida-nos a sentar por momentos e a conversar como se estivéssemos no café e não numa cadeia.
Mariana tem a sua filha mais nova ao colo. A menina tem apenas 14 meses de vida e nasceu na prisão. Os seus irmãos são mais velhos e, como tal, estão no exterior. A mais velha tem 16 anos. Seguem-se os rapazes, um com 13, outro com 10 anos.
Dos seus quatro filhos, a mais nova é a única que permanece consigo, até porque a lei permite que as crianças até aos três anos mantenham o contacto regular com as mães.
O Estabelecimento Prisional Feminino de Santa Cruz do Bispo tem inclusivamente uma creche para crianças até ao limite dos três anos, altura em que se dá a resocialização da criança. Durante o dia, são as educadoras de infância que tomam conta dos mais pequenos.
As mães levam os seus filhos de manhã à creche. Ao fim da tarde, vão buscá-los como se estivessem em liberdade.
Actualmente, a creche é frequentada por 13 crianças. Manter o espírito natalício é, por conseguinte, fundamental, nas palavras da directora Fernanda Barbosa: “Mesmo em cadeias onde não há crianças é fundamental, porque o Natal apela a todos os nossos bons sentimentos. Para as pessoas que estão aqui detidas, mesmo que seja apenas um período de transição, é sempre um período mais doloroso, porque se lembram das famílias. Pensar no Natal pode levá-las a reformular muito a sua vida. Apelamos aqui muito aos sentimentos de família, de pensar nos outros. O Natal também nos obriga a pensar mais nos outros. Se elas pensassem mais nos outros, com certeza não vinham presas”.
Mariana recebeu a feliz notícia de que este ano vai a casa passar o Natal com a família. “Felizmente, vou passar sete dias a casa e depois vou passar a Passagem de Ano também a casa. Vai ser muito gratificante para mim e para a minha família”, confessa. Mariana tem apenas 33 anos. Está há dois anos na prisão, a cumprir uma pena por tráfico de estupefacientes, por ter servido de correio de droga.
Passar o Natal em casa foi o melhor presente que poderia ter recebido este ano: “Não desejo a ninguém passar o Natal na prisão. O único que passei aqui foi no ano passado. A experiência foi péssima. Não consegui comer. Não consegui estar. É uma época muito triste. Acho que toda a gente sente o espírito natalício que normalmente se transmite, mas eu acho que, para quem tem filhos, sente-se mais, porque os filhos e os presentes têm aquela simbologia pessoal que marca sempre um bocado mais, não é?”.
Ao “Matosinhos Hoje”, Mariana explicou como é celebrada esta data tão especial em família: “O Natal em minha casa é com toda a família reunida, desde sogros, pais, filhos, irmãos…é um Natal bastante gratificante, porque reúne praticamente toda a gente. Fazemos a consoada. O bacalhau obviamente não pode faltar. Optamos também por peru ou cabrito assado. No dia seguinte fazemos o habitual farrapo velho. Não falha. É essencial”.
O convívio com a família foi o que mais sentiu falta no ano passado. “Os meus filhos, pela idade que têm…nunca me separei deles, nunca tinha passado um único dia longe deles e deparar-me assim, principalmente no Natal…Na altura, a minha mais nova tinha três meses de nascimento. Tê-la aqui e estar separada dos irmãos, sabendo que eles queriam muito estar com ela, foi muito complicado. Foi difícil”, admite.
E agora? “Se Deus quiser e se tudo correr bem, faltam-me oito meses de prisão para o meio da pena. Poderei sair a meio da pena. Pelo crime que cometi, tive uma condenação de cinco anos. Se me for concedido, saio aos dois anos e meio. Se não, terei que esperar mais um ano e oito meses”, adianta Mariana.
Bem mais pesada é a pena de prisão que Rosa (nome fictício) está a cumprir no Estabelecimento Prisional Feminino de Santa Cruz do Bispo, também por tráfico de droga.
Pela primeira vez em sete anos e oito meses, Rosa vai poder ir a casa passar o Natal com a família. O cabelo comprido, o tom de pele, as feições não enganam. Dentro de si há uma alma cigana. Por detrás dos olhos brilhantes, existe uma mãe. Um mãe que regressa a casa para reaver o seu filho, hoje com 18 anos.
“Já passei aqui vários Natais. É um bocado difícil estar distante da nossa família. Passei por vários problemas com a família. Perdi os meus pais. Estava aqui dentro e foi muito difícil. Agora vou passar este ano o Natal a casa. É o primeiro. Estou muito feliz. É diferente. Vou passar cinco dias e 12 horas a casa. Depois já vou a casa de seis em seis meses e se conseguir o regime aberto, já vou de três em três meses”, adianta.
Como é o Natal em sua casa? “É com a família, todos juntos. É muito bom. Comemos tudo. O bacalhau, o feijão, o grão. É um Natal muito tradicional”, descreve.
Rosa tem 34 anos. Foi mãe muito jovem, com apenas 15 anos. Talvez, por isso, seja mais difícil não poder acompanhar o filho numa quadra tão importante como esta: “É muito difícil passar o Natal na prisão. São dias em que a gente chora muito, porque estamos afastados daquilo que mais adoramos na vida, que são os nossos filhos. Para mim, é uma dor muito grande, muito forte. A melhor coisa que me podia ter acontecido na vida foi ir a casa no Natal. Foi a melhor prenda de Natal, porque já foram sete Natais aqui dentro. Pensava muito na minha família. Estamos fechadas e choramos muito na cela. É muito difícil, mas este ano vai ser diferente, se Deus Nosso Senhor quiser”.
Rosa tem ainda mais três anos de pena de prisão pela frente, ou seja, mais três Natais.

A ceia na prisão
Para quem não tem a sorte de ir a casa pelo Natal, a direcção do Estabelecimento Prisional Feminino de Santa Cruz do Bispo prepara uma ceia de Natal mais elaborada com tudo o que é tradicional, desde o bacalhau cozido às rabanadas, os chamados “mimos de Natal”.
“Nessa altura, há mais cuidado até a por as mesas no refeitório, mais cuidado na decoração. Este ano venho cá conviver um bocadinho com elas. Trabalhei 23 anos no Estabelecimento Prisional do Porto, onde ia sempre no Natal. Aqui obviamente vou fazer igual”, assegura.
Fernanda Barbosa abdicará, então, de um pouco do seu tempo com a família para partilhá-lo com as reclusas: “Para mim, acho que é o período mais difícil, porque custa-me sempre ver as pessoas presas numa noite destas, que é uma noite com muito significado. Comovo-me muito, mas, ao mesmo tempo, sinto-me muito gratificada”.
Das 254 reclusas, apenas 46 terão a oportunidade de celebrar o Natal em casa. “Para irem a casa, elas têm que ter cumprido já um quarto da pena. Candidatam-se a beneficiar de uma medida de flexibilização de pena. As candidaturas vão a Conselho. Se o Sr. Dr. Juiz achar que a nossa exposição é consentânea com as normas que a lei diz, defere a saída precária. Depois há outro tipo de saídas. Há saídas de 48 horas de reclusas que já beneficiaram de saída precária. Essa concessão é dada pelo director do estabelecimento e pelo Conselho Técnico”, esclarece Fernanda Barbosa.

Festa de Natal
Como todos os anos, o Estabelecimento Prisional Feminino de Santa Cruz do Bispo promove a Festa de Natal.
Este ano, a iniciativa teve lugar na passada quinta-feira e contou com a presença de um grupo de elementos da Academia de Música de Espinho.
Seguiram-se as actuações da chamada “prata da casa”. Um grupo de reclusas mostrou o que vale na dança cigana, música brasileira, bachata, hip-hop e kizomba. O público não aguenta estar sentado. Levanta-se e acompanha com palmas os ritmos quentes.
O Pai Natal também marcou presença e entregou brinquedos às crianças. As mães puderam assistir a um vídeo com as fotografias dos seus meninos e meninas. As mesmas carinhas ilustravam uma estrela que decorou a árvore de Natal. Em vez de bolas, as imagens dos bebés embelezaram os ramos do pinheirinho.
“Adorei a festa! O que mais gostei? Da dança, obviamente. Isto é um espírito, se calhar o mais sensível, para as reclusas. Acho que a dança eleva o nosso espírito natalício, porque é a altura em que estamos mais sensíveis, algumas por não poderem ir a casa. Depois do Natal, as férias escolares são outra altura com­pli­cada”, afirma Mariana.
Também Rosa ficou muito satisfeita com a Festa de Natal: “É muito importante para nós que estamos aqui. Esta festa põe-nos um bocado mais alegres. Conseguimos esquecer por um bocadinho que estamos aqui. Gostei de tudo, princi­- palmente de ver as crianças. Eu adoro crianças!”.
O Estabelecimento Prisional Feminino de Santa Cruz do Bispo funciona em parceria com a Santa Casa da Misericórdia. Além do sector laboral, a Santa Casa da Misericórdia tem a seu cargo a animação. “Esta festa foi concebida numa interacção entre os Serviços de Educação, a Directora e a Santa Casa da Misericórdia, que acabou depois por tomar as rédeas da festa. As reclusas estão envolvidas ao longo do ano em diversas actividades, designadamente a dança, e estão a preparar-se para estes eventos e apresentarem os seus trabalhos ao resto das colegas. Tentamos aqui muito recriar o ambiente familiar”, salienta.
Em tempo de Natal, a directora Fernanda Barbosa não quis deixar de enviar uma mensagem de esperança às reclusas do Estabelecimento Prisional Feminino de Santa Cruz do Bispo: “Eu queria que elas vissem este período como um período de transição para uma vida nova. O que eu desejo é uma vida nova para elas, porque uma das coisas mais importantes da nossa vida é a liberdade. Se elas puderem realmente enveredar por outros caminhos e nunca mais voltar, para mim será uma grande alegria”.
Fernanda Barbosa defende uma segunda oportunidade para estas reclusas, alertando para os problemas de estigmatização, muitas vezes, criados pela sociedade. “Isto é um período temporário. Penso que nós, seres humanos, temos uma capacidade incrível para dar a volta e mudarmos aquilo que consideramos que não está bem. As mulheres são muito fortes e se, realmente, estiverem empenhadas em encetar um novo projecto de vida, eu tenho a certeza que conseguem. As mulheres têm até mais facilidade até de arranjar emprego, designadamente nas limpezas. Basta querer, com muita força e fazer por isso”, conclui Fernanda Barbosa.
Por esta hora, Rosa e Mariana estão já em casa, a reunir os ingredientes para a consoada de logo à noite. O bacalhau, os grêlos, as batatas, o peru, o vinho, as migas, as rabanadas, o bolo-rei, o pão-de-ló, a aletria, estão em vias de preparação. Tudo vai ficar pronto a tempo e horas. A família está quase a chegar.
O melhor presente de Natal não foi a chave milionária do Euromilhões, não foi a Playstation, não foi o último CD do Tony Carreira, não foi o último livro do Nicholas Sparks, não foi o colar de pérolas, não foi o computador portátil nem a carteira em pele. O melhor presente de Natal não foi a liberdade. Foi o reencontro com a família.
Rosa e Mariana. Este é o meu presente para vocês. Feliz Natal.


by Dulce Salvador in "Matosinhos Hoje" ( 24-12-2008)

domingo, 4 de janeiro de 2009

Sonhos desfeitos


Vieram para Portugal à procura de uma vida melhor

Sonhos desfeitos

Um ucraniano e um russo passaram o Natal numa gruta à porta da Igreja do Senhor de Matosinhos.
Quem atravessa o adro da Igreja Matriz do Senhor de Matosinhos depara-se com uma casa improvisada. O tapete, à entrada, dá as boas-vindas. Todavia, nem todos entram para deixar comida ou agasalho. Sim, ainda há quem tenha coragem de roubar quem mais nada tem do que a roupa que traz no corpo.
Um ucraniano e um russo partilham uma das grutas. Durante o dia, percorrem as ruas, pedindo esmolas para poderem comer. À noite, regressam “a casa”, tentando aquecer-se com alguns cobertores e casacos. Quando precisa, toma banho no lago. O frio é insuportável. A vida nem sempre foi assim.
Viktor (nome fictício) tem 31 anos. Nasceu na Ucrânia, mas não pensa regressar um dia à sua terra natal: “Não quero voltar à Ucrânia. Lá só há más pessoas. O nível de vida é muito pior. É melhor viver aqui na rua do que lá. É perigoso. Muita pobreza. Não há trabalho. A carne é mais cara lá do que aqui”.
A sua família foi fortemente afectada pela tragédia de Chernobyl.
Recorde-se que, a 26 de Abril de 1986, o reactor número quatro da central nuclear sofreu o maior acidente conhecido na história. Com a explosão da estação de Chernobyl foram enviadas 190 toneladas de urânio radioactivo e grafite para a atmosfera.
Os efeitos das radiações foram tardiamente divulgados. Os seus familiares mais próximos, como o pai e a avó, acabaram por sucumbir às doenças oncológicas.
Danya (nome fictício) aconselha Viktor a não falar connosco nem a deixar-se fotografar. Afinal, os dois encontram-se no país em situação ilegal. A gruta da Igreja do Senhor de Matosinhos tem servido de refúgio já lá vão mais de duas semanas, mas não deverá continuar a sê-lo por muito mais tempo. O mais tardar, depois do Ano Novo, terão que encontrar um novo abrigo.
Danya não resiste a entrar na conversa. Pergunta-me se sou do Leixões. Porquê? “Porque eu sou russo, mas sou do Porto!”, responde, mostrando-me, com orgulho, um cachecol às riscas azul e branco. Viktor também é um adepto portista, mesmo estando em Matosinhos, a terra do Leixões: “Não, os do Leixões são todos benfiquistas”.
Viktor chegou a Portugal em 2001, por intermédio de um colega ucraniano. A busca por melhores condições de trabalho não correu bem: “Vim para cá à procura de uma vida melhor. Na Ucrânia era soldador. Paguei 1200 euros para vir para cá e eles roubaram-me. As pessoas da minha terra roubaram-me. Eu paguei tudo. Eles prometeram-me que cá tinha trabalho, tinha casa, tinha tudo. Quando cheguei a Lisboa, não tinha nada”.
Viktor tentou arranjar trabalho para sobreviver, mas foi difícil encontrar gente séria e honesta. Trabalhou em Lisboa a descarregar camiões, depois foi para Sines, trabalhar na linha de comboios.
“Eles enganaram-nos. Mandaram muitos portugueses e ucranianos embora. O patrão só quis fazer dinheiro. Não quis ajudar as pessoas. Fez contratos falsificados. Nós assinamos, mas eles não fizeram nada. Fiquei sem trabalho. Telefonei para algumas pessoas que me arranjaram trabalho na Póvoa de Varzim”, conta.
Viktor rumou, então, ao norte do país para trabalhar numa fábrica de blocos para construção civil na Póvoa de Varzim.
Ao fim de um ano e meio, ficou novamente sem trabalho. O ucraniano mudou-se para Vila Nova de Gaia à procura de uma vida melhor, mas a sorte não esteve do seu lado: “O patrão era má pessoa. Trabalhei para ele, mas ele só pagou o primeiro ordenado. 350 euros. Disse-me que eram só 350 euros, porque eu era servente. Mas eu fui trabalhar como trolha. Tinha que receber mais”.
Seguiram-se cinco anos de trabalho na Maia, numa fábrica de alumínios. “O patrão roubou, emprestou muito dinheiro. Ele disse que o negócio da fábrica estava a correr bem, mas depois começou a correr mal. Não conseguiu pagar o que tinha emprestado”.
Viktor já viveu no Porto e em S. Mamede de Infesta. Neste momento, a sua actual morada é uma gruta em Matosinhos.
Há oito meses sem trabalhar, o seu principal meio de sustento é a generosidade dos portugueses.
“Eu preciso de trabalhar. Roubaram-me os documentos todos. Sem trabalho, não posso arranjar. As pessoas têm medo dos ucranianos”, afirma.
Viktor sabe que, a qualquer momento, pode ser interceptado pelas autoridades e ser recambiado para a Ucrânia, ao fim de dez dias de ser notificado.
Como tal, o seu principal objectivo para o ano que agora começa é arranjar um emprego.

Um amigo chamado Smart
A principal companhia de Viktor é Smart, um cão preto, que não sossega enquanto conversamos. A brincadeira evita a solidão.
“Ui, Jesus. Ele aquece à noite. Se não fosse ele, não sei o que seria. Uma vez apanhei tanta chuva. Estava todo molhado. Corpo a corpo, nós aquecemo-nos”, explica.
Viktor gostava de permanecer em Portugal. O que mais gosta daqui? “As pessoas. São generosas. Em Portugal, é tudo mais calmo, tranquilo. Aqui ninguém faz mal como na minha terra. Na Ucrânia, as pessoas são falsas, só roubam. Quem faz mal aqui são pessoas da minha terra. Roubam telemóveis, dinheiro”, desabafa.


by Dulce Salvador in "Matosinhos Hoje" (31-12-2008)