sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Obsessão pela morte
Matosinhos foi palco, durante quatro dias, de uma das peças de teatro mais premiadas nos últimos tempos em Portugal.
“Começar a Acabar” de Samuel Becket, estreou, na passada quinta-feira, no Cine-teatro Constantino Nery, e em cena se manteve até ao último domingo.
A peça revisita os momentos mais significativos da obra do dramaturgo Samuel Becket e conta a história de uma amizade entre dois irlandeses: o dramaturgo Samuel Becket e o actor Jack Macgowran, de onde resultou “um monólogo de uma espantosa unidade dramática” que passa pelos poemas e pelas vozes de Krapp, Lucky, Molloy, Clov, Malone, entre outras.
Com encenação, tradução e interpretação do conhecido actor João Lagarto, a peça conta ainda com a música de Jorge Palma.
“Isto é um monólogo que o Becket fez de propósito para um actor amigo dele. Não é um texto original. É uma montagem que o Becket fez de vários bocados de livros que ele já tinha escrito na altura. Foi buscar coisas aos romances, às peças e à poesia e fez uma montagem disso. As pessoas não notam as costuras. Parece que é uma coisa única e não é. Ele era exímio a fazer esse tipo de coisas. Quem conhece a obra do Becket e vê isto, detecta aqui algumas coisas bastante conhecidas e bastante emblemáticas da obra do Becket. É um texto sobre a morte, que é a única coisa que une todos esses fragmentos. A morte entendida como morte física da pessoa, mas também como o fim, ou seja, um conceito maior do que apenas a morte física da pessoa. O fim das histórias. Como é que se acabam as histórias? O Becket era um tipo que tinha um horror ao silêncio. Eu preciso de continuar a falar. Se o silêncio invadir, eu acabo. O silêncio é o fim. Nesse sentido, não é só a morte. É um texto aberto, que sugere muitas coisas”, explica João Lagarto.
Em Portugal, a peça estreou em Setembro de 2006 e resulta de uma co-produção ACE/Teatro do Bolhão- Teatro Nacional D. Maria II.
“Tem sido uma experiência única. Nunca me aconteceu uma coisa destas na minha vida. Nunca fiz uma peça durante tanto tempo na minha vida. Tem sido uma coisa permanente durante os últimos dois anos e meio. Estreou em 2006, por altura do centenário do Becket e desde então não parei. É muito engraçado fazer uma peça assim durante tanto tempo. Descobrem-se coisas sobre a peça, sobre nós e sobre tudo”, revela o actor e encenador.
João Lagarto venceu o prémio de Melhor Interpretação em 2006 pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro e o Globo de Ouro para Melhor Actor de Teatro nesse mesmo ano.
Ficha Técnica:
Encenação, Tradução e Interpretação- João Lagarto
Música- Jorge Palma
Iluminação- José Carlos Gomes
Figurino- Ana Teresa Castelo
Operação de Luz e Som- Nelson Lima
Produção- Pedro Aparício e Alice Prata
Design Gráfico- Bernardo Providência
Por: Dulce Salvador
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